domingo, 25 de maio de 2008

União

No meio da viagem, já escuro, abro a cortina e olho pela janela. Uma paisagem que poderia me arrancar um sorriso, me traz uma tristeza profunda. Uma lua morta e sombria deixa o céu negro, as estrelas invisíveis e a vasta mata cinzenta. Não há uma só estrela no céu. O que aconteceu? Tem um movimento congelado em todo canto.

Mas, de repente, uma brava estrela tenta romper a ditadura da lua. Seu surdo sussurro é, com espanto, ouvido por todos. Encorajadas por tal ato, as outras estrelas começam a aparecer. Seus sussurros logo viram gritos por liberdade. A vegetação entra em ressonância.

As estrelas cobrem todo o céu. A mata fica verde. Um sorriso é arrancado do brilho de olhos de todos que, como eu, olhavam pela janela.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Apatia

Falta um minuto pra acabar...
E o que você fez?
Ainda não é minha vez.
Mas pra mim tanto faz.

E agora que acabou já?
O que você fez?
Ainda não chegou minha vez.
Mas pra mim tanto faz.

domingo, 11 de maio de 2008

Metalinguagem?

Tenho inveja de tudo,
Tenho inveja do mundo.
Acho que já usaram essa rima,
Mas eu não me importo muito.

Não quero decassílabos,
Não quero alexandrinos,
Quero meus versos livres,
Rimar com passarinho...

Eu acho que posso continuar escrevendo até passar
[do canto da página.
Ou não.
Eu não acho nada de mais,
Eu me acho de mais...

Quem dera...
O mundo não estivesse perdido.
Quem dera...
O perdido não fosse eu.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Atoando...

Então uma folha seca cai em meu colo. Olho para cima e vejo uma árvore toda florida. Se não fosse natural, pareceria irônico uma folha tão ressecada cair de uma planta tão bela.

Começo a quebrar a folha em mil pedaços. A cada pedaço que vai, menor fica a indefesa folha seca. Não há nada que a coitada possa fazer para impedir. Violenta e vagarosamente, vou partindo o seu talo e jogando os pedaços no chão. E a pobre, passível a tudo, só sofre até o instante em que eu deixo o seu ínfimo último pedaço cair no chão.

Seria ela muito mais feliz se, como o homem, pudesse se pôr junto e seguir em frente, mas, já morta, não há nada que a folha possa fazer.
Pobre mundo desidratado.
Então uma pétala cai no chão...