sexta-feira, 15 de maio de 2009

Título

Uma manhã entrou pela porta dos fundos, como uma brisa repentina, mas parou. Parou e foi embora como se não tivesse chegado. Todos aqueles segundos de manhã se foram e agora é tarde. O memorial de um ato heróico de um herói inventado enfeita as testas daqueles que não sabem aonde olhar. As íris mais belas enfeitam o canto da sala de estar. As notas mais belas enfeitam o canto da sala de estar. Ponto, parágrafo.

A letra que nunca foi escrita, a melodia que nunca foi composta, o som que nunca foi feito, o coração que nunca foi visto foi esfaqueado no peito e agora resta uma lacuna no peito do coração. Todas as folhas secas de árvores que ainda não caíram esperam para cair. E não vão cair tão
cedo, pois ainda esperam crecer. Rastejam. São árvores? Ponto, parágrafo.

Um instante... Ponto, parágrafo.

Todo o conceito subliminar de algo tão evidente agride o trauma de um crânio privilegiado. Todo o conceito evidente de algo tão subliminar agride o trauma de um crânio tão tosco. Todo o trauma tosco também está em tratamento. São pontos que merecem ser tratados antes que reste um só ponto. Ponto, parágrafo.

O ponto que resta é a canção que nunca foi cantada, pois sua melodia nunca foi composta em cima de uma letra que nunca foi escrita. Ficou a canção. Ficou a canção. Ficou a canção. Ela não inexiste. Ela não "não existe". Ela está lá. Escondida, ao fundo da lacuna do peito do coração. É simples. Nada que existe vai vir a inexistir, assim como nada que inexiste vai vir a existir. Ponto, parágrafo.

A canção existe. Ponto, parágrafo.

A canção que vem aos ouvidos não é de verdade. Não é. Não há quem a possua, não há quem a impeça. Não. Nem a canção que vai, nem a canção que poderia ter ido. Mas esta é de verdade. Um barulho, um grito, um silêncio antes do fim. Por que silêncio? Ponto, parágrafo.

O silêncio que veio antes do fim, não depois, é a manhã que poderia ter vindo como uma brisa repentina pela porta dos fundos ou folhas secas. Perto do fim. Todo fim tem um começo. Todo fim é um começo. Todo começo também é um fim. O fim do fim é um começo. E o começo do fim... é o começo do fim. Que será um começo. Outro começo. Ponto final, ou melhor, inicial.

2 comentários:

Yannara disse...

Dá pra notar que você como escritor já desenvolveu seu estilo particular de escrita.

Mais uma coisa: Eu achei...

Ana Flávia disse...

É... Sou definitivamente limitada demais pra o que vc escreve...